Ser publicitário é poder zapear, sem culpa, por qualquer lixo televisivo. Eu, por exemplo, não durmo sem a benção histérica de um bispo da Universal. Recentemente, porém, os garimpeiros da TV trash se deliciaram com mais uma estréia novelesca do autor que mais entende de exploração do drama humano. Fico imaginando como estes caras escrevem roteiros: pegue um magnata terminal, filhos ambiciosos, um alcoólatra gago, uma prostituta com síndrome de Down e um anão de circo manco; costure tudo com bossa-nova e coloque Regina Duarte interpretando Helena. Se a Rede Record ler isso, me contrata.
Shhhh! O primeiro capítulo começa. Cena um: a câmera aérea passeia pelo Corcovado, pelas mansões do Alto Leblon e, chupando meia dúzia de filmes nacionais, se transpõe para o mar de favelas. Corta para um arrastão na praia – a maioria é de negros. Um deles foge, é atropelado pela atriz e cercado pela polícia. Segue uma seqüência de desaforos preconceituosos, palavrões, sinais obscenos. Que obra-prima! A pausa do banheiro foi para vomitar. Os momentos de descontração, não-intencionais com certeza, ficam por conta da tinta na cabeça dos galãs e das plásticas exageradas no rosto das atrizes.
Sou como o Lima Duarte: não gosto de novelas. Pra mim, só servem pra atrapalhar o trânsito da Zona Sul. Mas, ok, você adora e acha ótima distração. Encontra importantes argumentações sobre delicados temas sociais. Dias atrás assisti uma entrevista com o autor da estréia global. Numa de suas respostas, ele foi claro: seus roteiros se baseiam em intrigas, traições, etc. Bem, se você não é sádico, que entretenimento é esse? E até que ponto a exploração destes temas contribui socialmente ou apenas os explora em troca de audiência, banalizando-os e, até mesmo, incentivando-os? Faltam enredos sobre valores humanos nobres e criativos, sem serem chatos. Até existem, mas se perdem no bombardeio de sugestões nocivas e subliminares. Filho matando pai no Jornal Nacional é hediôndo. Na novela, é diversão. A difusão de pensamentos intolerantes alimenta atos intolerantes. Pensamentos de ódio, atos de ódio. E assim vai. Negar isso é negar a influência da comunicação no comportamento das pessoas. E se você nega isso, você não é um publicitário.
Agora mudando de assunto, final de semana já sabe, experiências caseiras sempre presentes, mesmo para mim que não me aventuro muito nesse campo, mesmo gostando de cozinhar !
Retomando, fui me aventurar para esse lado e me deparo com o bom e velho OMO, e nesse momento que surje a pitada da profissão do nosso dia-a-dia… se sujar faz bem ?
Se “se sujar faz bem” porque eu devo comprar OMO pra lavar as roupas?
Deixa elas sujas, oras. Em time que está ganhando não se mexe.
É isso aí, já sabe. Quando estiver com um resfriado ou mal-estar dê uma rolada na lama. Se sujar faz bem.
– Doutor, já faz um tempo que não me sinto bem.
– Fica frio que vou te ajudar. Estou escrevendo aqui uma receita médica pra você. Olha aí, passe na farmácia e compre um vidro de Xarope Melagrião. Abra. Vire o vidro todo sobre sua roupa. Vai se sentir bem melhor assim. Se sujar faz bem.
– Obrigado.
– E antes de sair passe na enfermaria aqui do hospital. Tem um cara lá que vai vomitar na sua blusa.
Eu poderia lançar só mais uma dúvida?
O que significa essa figura aí embaixo que o pessoal do OMO usa em suas propagandas?
Uma mancha de suco de “frutinha”? Uma mancha hOMO.
Seja o que for não importa. É uma mancha. E faz bem. Principalmente se estiver sobre aquela sua blusa de seda branca que acabou de comprar na Daslu.
by Lucas Maluli
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